Uma moda para se chamar de sua
Giovanna Penido (*)
A moda mineira perpassa e belisca com a arte, cultura, história e
nossos entendimentos mais arraigados. A história da moda de Minas Gerais
oferece ao mercado um celeiro de possibilidades que ultrapassam a perspectiva
puramente material de consumo.
Como falar da Moda e sobre Moda, em Minas? Mais fácil começar pelo
início?
Se os navegadores e marinheiros portugueses chegaram vestidos de
inverno no nosso país tropical, onde toda a nudez foi castigada, fizeram que os
bandeirantes portugueses, saídos de São Paulo, descobrissem nossas preciosas
minas. Mas em 1720 há mais de 300 anos, como consequência da Revolta de Vila
Rica, a autonomia administrativa do nosso estado foi conquistada.
Evidentemente, há 300 anos, Minas não produzia a “fina porcelana” da
alta costura, pelo contrário, fabricava e muito o rústico Pano de Minas. Minas
Gerais possuía uma das melhores fibras de algodão do Brasil e dela originou-se
o Pano de Minas, que era exportado e disputado por inúmeros países. A produção
do Pano de Minas cumpriu a sua função econômica e social até o final dos anos
de 1.800.
Graças a esse favorável ecossistema criado: mão de obra de qualidade,
boa fibra e a credibilidade do mercado, a indústria fabril ocupou rapidamente o
seu espaço no nosso território.
Em 1907, a indústria têxtil mineira era responsável por 62,9% do total
da indústria do Estado, por 40,2% do valor da produção industrial e por 50% do
emprego industrial. E deixou como legado um pilar da tradição mineira ligada à
Moda, a Cedro Cachoeira, é uma das principais empresas têxteis do país, com
capital 100% brasileiro, com 150 anos de atuação ininterrupta no mercado.
Podemos afirmar que a nossa aptidão de manualidades, a fama das nossas
bordadeiras e costureiras, nasceu devido ao Pano de Minas? Quero conceder ao
Pano de Minas um lugar de destaque na História da Moda Brasileira, como o jeans
ocupa na história dos Estados Unidos.
O resto é história. O resto é tudo. O resto virou Moda.
O nome Minas Gerais, apesar de geral, justo e justificado, mostra-se
também injusto; no mínimo incompleto e incorreto. Gerais aqui, sim, mas as
Minas têm outros dotes e dons gerais. Temos Artes Gerais e nelas, em destaque,
a Moda.
Minas Gerais é, historicamente um importante polo de moda
dentro do Brasil, sendo o 3º estado no ranking de geração de empregos.
Considerando a moda como negócio, podemos afirmar que é um dos setores que
contribuem para a diversificação da matriz econômica do Estado de Minas Gerais.
Já no Brasil, a Moda é o segundo maior empregador da indústria. Na
Moda, 75% são de mão de obra feminina. É o segundo maior gerador do primeiro
emprego, o quarto maior produtor e consumidor de jeans do mundo, o quarto maior
produtor de malhas do mundo, o terceiro maior produtor de seda do mundo.
Temos mais de 100 escolas e faculdades de moda. E foi em Minas Gerais
que foi criado o primeiro curso de moda do país na Faculdade de Belas Artes da
Universidade Federal de Minas Gerais. Hoje, o Minas Trend é a maior feira de
negócios da América Latina.
Minas Trend, já na sua 28 edição, comemorando nesse ano 15 anos. É hoje
uma belíssima debutante, que sempre trabalhou para o protagonismo do setor de
moda e fomentou a sua vasta cadeia produtiva e de valor.
Moda em Minas é cultura, como na renda turca de bicos em Sabará,
patrimônio imaterial, tombada pela IPHAN. Nas bordadeiras e rendeiras,
patrimônio imaterial de Ouro Preto e mais 12 distritos do entorno. No maior
sítio geológico de gemas e metais preciosos do mundo. No saber tradicional da
produção, na memória, na identidade e na expressão dos artesãos. No Museu da
Moda – Temos grande orgulho de contar com o primeiro (e único público) Museu
Municipal de Moda, o MUMO, aberto em 2012 como Centro de Referência da Moda,
que abriga uma biblioteca dedicada, um auditório com rica programação gratuita
e exposições temporárias.
Moda aqui tem sotaque, esse setor em Minas Gerais representa muito bem
essa ligação histórica, apresenta características marcantes do saber intrínseco
dos mineiros, o saber fazer dos nossos ofícios de moda. O que precisamos agora
é assumir nossa essência para distinguir o nosso produto com propósito e com
conteúdo.
Em Minas Gerais temos mais de 17 Arranjos Produtivos Locais
reconhecidos, as APLs: malhas (tricô), bolsas e calçados; vestuário, lingerie,
couro, gemas, jóias e bijuteria, que potencializam o desenvolvimento econômico
local. A APL de Jacutinga produz 30% da produção nacional de malhas (tricot).
A capital do estado Belo Horizonte por ter mais de 20 mil empresas de
vestuário é reconhecidamente a grande vitrine da Moda Mineira, além de contar
com todos os tipos de produtos de moda, a criação de moda da capital é uma
grande alavanca de projeção de marcas para o Brasil e para o Mundo.
Em 2012 a cidade foi reconhecida via decreto como Capital da Moda. Em
2016 em articulação da Frente da Moda Mineira junto ao governo Municipal a
cidade ganhou o selo BH CAPITAL DA MODA, e realizou a Semana de Moda e o MOOD,
Festival de Moda de Belo Horizonte em 2018 e 2019 consecutivamente.
Importante dizer também que a Moda está presente nos 853 municípios de
Minas Gerais, afinal todo mineiro tem na família uma costureira, uma
tricoteira, uma crocheteira ou bordadeira. Somente a gastronomia que compete
com a moda como expressão cultural tão ampla. "Por isso que sempre falo, o
que você veste ou come fala muito sobre você."
A moda está tão emaranhada no estado que além de Belo Horizonte,
Capital da Moda, temos inúmeras cidades de referência ligadas ao segmento:
Borda da Mata – Capital do Pijama; Inconfidentes - Capital do Crochê; Jacutinga
– Capital das Malhas; Juruaia – Capital da Lingerie; Nova Serrana – Capital dos
Calçados Esportivos; Teófilo Otoni – Capital das Pedras Preciosas.
Tenho a pretensão de falar que em Minas Gerais estão os maiores
criadores, marcas e criativos da moda brasileira que movimentam o mundo
fashion. Poderia citar nomes como, Alceu Penna (Curvelo), Markito (Uberaba),
Zeferino (Itabira), Walfrido Hermanny (Belo Horizonte), Zuzu Angel (Curvelo),
Francisco Costa (Guarani), Inácio Ribeiro (Itapecerica) ou Gustavo Lins (Belo
Horizonte). Mas a história da moda de Minas Gerais é contada através de
anônimos ou de nomes sem repercussão. A moda de Minas é feita através de várias
Marias e Josés.
Agora sim, podemos chegar ao fim, longe de um fim e felizes em
participar dessa edição comemorativa do Minas Trend. Celebrando o futuro da
Moda de Minas Gerais. Tim Tim!
(*) Giovanna Penido tem formação
em comunicação com especialização em pedagogia empresarial e fashion Image em
Milão. Articuladora e membro da Frente da Moda Mineira, conselheira da cadeira
de Moda do Consec-MG (Conselho Estadual de Politica Cultural de MG) e titular
da região Sudeste no CNPC (Conselho Nacional de Políticas Culturais). Membro da
Câmera da Indústria do Vestuário e Acessórios e Câmera Setorial do Vestuário
Região Metropolitana de Belo Horizonte. Atualmente é produtora cultural,
curadora de eventos de moda e atua na DOM, nas áreas de moda, artesanato e
design.