19 de Abril
Memórias da pele
Pesquisa de tendências da indústria da moda feita pelo projeto InspiraMais mostra que
nosso corpo, já tão embrutecido pelos últimos dois anos de pandemia, quer
regeneração suavidade e aconchego.
A primeira palestra transmitida por meios digitais desta 27ª edição do Minas Trend na
segunda-feira (20) foi ministrada virtualmente pelo designer e integrante do projeto
Inspiramais Marnei Carminatti. Em pouco mais de uma hora, Marnei traçou o cenário das
tendências atuais da moda a partir da metodologia da pirâmide, composta 100% pelo mercado
da moda. Em três estágios, a pirâmide mostra um processo para atender às novas
necessidades e desejos do consumidor: os primeiros 10% são o início do processo, a busca pela
inovação, baseada no DNA e nas capacidades tecnológicas e produtivas de cada empresa; os
30% seguintes são a adequação e o desenvolvimento produtivo das inovações visando os
grandes volumes e a rapidez da entrega; e, por fim; os 60% são as confirmações do mercado,
onde ocorre a massificação das inovações iniciadas nos 10%.
De acordo com Marnei, este semestre tem início com o tema Terra (2023-II). O assunto ocupa
os 10% iniciais da pirâmide, onde se busca inovação e geração de valores. “Esses são os pontos
mais importantes desse topo da pirâmide, quando vamos distribuir isso na coleção, sempre
nessa perspectiva da busca por inovação e na busca por valor. E esse valor não é preço, é o
valor referido daquele projeto ou daquele produto”, diz.
O designer explica que as experiências traumáticas vivenciadas por todos nesses últimos dois
anos são catalisadores de uma evolução sem precedentes da nossa história. Este momento
histórico traz, portanto, aquilo que o InspiraMais denominou como sendo o guarda-chuva de
informações deste semestre do projeto. “A ideia principal é que essa evolução sempre muda
as perspectivas tecnológicas ou os processos mas, principalmente, os humanos, os indivíduos.
E para a gente compreender esse cenário, nós fizemos, para diversas pessoas, a pergunta:
como iremos reagir a esse novo período que se ilumina no horizonte?”, conta. Dentre as
respostas recebidas, uma chamou a atenção por questionar como se poderia pensar em
estabelecer novos cenários de empatia, acessibilidade, circularidade e ainda assim desenvolver
negócios.
Esse questionamento foi, então, levado ao estilista austríaco Helmut Lang, que respondeu:
“Nada mais importará ou terá uma evolução se não cuidarmos do Planeta Terra com esforço
global. Tudo mais deveria florescer genuinamente a partir dessa posição, pois fugir não vai
mais funcionar. É isso o que temos feito até hoje.”
Para Marnei Carminatti, receber essa resposta de uma pessoa que é referência no movimento
minimalista e na utilização de materiais não convencionais para a moda mundial expressa
muito do que imaginamos para o contexto atual e nos ajuda a fazer uma reflexão de como
estamos tratando a Terra.
“É importante frisar que a gente vem buscando, por meio do InspiraMais, focar em
sustentabilidade e inovação, com as informações de moda, desenhando ideias de modelagem,
desenhando texturas, formas e cores. Mas a nossa ideia é a busca por materiais que tenham
sustentabilidade como ponto de partida para seu desenvolvendo. A nossa ideia é unir
funcionalidade, estética e sustentabilidade sob o tema guarda-chuva Terra”, discorre.
Outro ponto fundamental ressaltado pelas tendências é a simbiose, principalmente a
associação entre dois organismos de espécies diferentes. Para ele, a ideia é conectar técnicas
ancestrais a um novo modelo de fazer um produto, um novo modelo de moda, em que
materiais inovadores e sustentáveis desenhem todo esse novo cenário. “A combinação pode
ser muito vantajosa, principalmente para as gerações que reconhecem esse movimento e
estão em busca dessa sequência de produtos pensados de uma forma inteligente.”
Carminatti cita uma série de estilistas, artistas plásticos e até mesmo filósofos que trazem em
seu repertório elementos com referências imprescindíveis para a construção do tema:
multiculturalismo, tecidos vintage, história, arte e cultura, filtros de uma realidade aumentada,
simbiose entre o digital e o humano, desejo de contar histórias através dos tecidos, fusão
entre materiais mais rígidos com materiais mais leves e nobres, inspiração em elementos
digitais de histórias tecnológicas que nem existem ainda. Todos, juntos, gerando uma estética
totalmente diferente. Uma estética que pode ser adaptada e usada pelo tema Terra.
10%
A cartela de cores do Terra é aberta com três cores principais, que desenham os 10% do
InspiraMais: Branco Incrível, Taus Taupe e o Purple Sapphire. “São três cores que nós
acreditamos que têm vida própria, pois elas já fizeram um giro em duas temporadas seguidas,
então vale a pena prestar atenção no uso conjunto ou individual”, analisa.
30%Ao falar dos atuais 30%, que foram os temas que representaram os 10% do semestre anterior,
temos o corpo, a potência estética, a performance como pontos de partida. Comportamentos
de consumo voltados à saúde, voltados à comunicação, principalmente no contexto de
diversidade. “Parece ‘batido’ eu falar de coleções agênero, mas é importante repetir, porque
talvez essa ficha não tenha caído ainda em muitas indústrias. Isso não inviabiliza roupas com
gênero, não é isso. Mas roupas funcionais, que podem ser utilizadas por categorias distintas de
consumidores, certamente terão mais impacto, principalmente nos discursos das marcas no
futuro”, aposta.
Texturas – Quando o tema são texturas de materiais, a ideia de encerado e lustrado é muito
importante, segundo Carminatti. Aqui ele menciona como tendência materiais que tenham
aspecto de couros vegetalizados, de couros ‘box’, com aparência de lustrados, com muito
brilho, mas de uma maneira muito natural. Um brilho feito por cera, não por laca. Outro ponto
importante são as texturas emborrachadas, que mistura o aspecto gelado com o fosco. Isso,
para todos os universos. “Da confecção ao calçado, todos podem propor esse acabamento”,
garante. O acolchoado aparece com força, como elementos que dão a impressão de que foram
inflados, com muita espessura e muito volume. Mas, segundo o designer, uma estética que
modifica o padrão do nylon e de materiais similares. Para as roupas e também para os
calçados, Marnei Carminatti sugere os vernizes com bases muito macias, porque todos os
produtos precisam ‘abraçar’ muito o corpo ou ter grandes movimentos e flutuação.
Joias e acessórios - Marnei ressalta que para joias e acessórios a tendência é a ideia do
pesado, uma estética urbana, bruta, ou seja, parafusos, correntes, tachas e todos esses
elementos que desenham uma estética que pode beirar o punk.
Estamparia - Outro ponto importante, segundo o designer, será a ideia do carimbo, como
técnica gráfica, ou usar estruturas para serem carimbadas, ou que pareçam carimbadas. Para
ele, essa é uma tendência que vai se somar à estamparia. Da mesma forma, o dourado surge
muito valorizado, porém com o desafio de ser utilizado de forma revista para a coleção e para
os produtos. “Falamos desde estamparia dourada até materiais que possam ser costurados ou
que tenham partes douradas”, contextualiza.
Mais tendências – a estética do pelo, macio e aconchegante, utilizada por qualquer material
sustentável que provoque essa sensação também está em alta. O conceito destroyer é outro
ponto que desenha os 30%, principalmente com a estética do lixado, do detonado, como uma
forma de fazer uma leitura do que vem acontecendo no mundo. Materiais que sofram com o
acabamento humano, materiais que podem ser usados como elementos sofisticados, assim
como os detalhes de mau acabamento também são os protagonistas das peças.
Cores - Para Marnei Carminatti, a cartela de cores dos 30% é uma das mais lindas desta
temporada, trazendo o Syrac e fazendo o híbrido entre apasteladas, muito suaves, com cores
pontualmente mais brilhantes.
60% Nos 60% está a importância de se pensar sobre a chave do futuro e principalmente sobre
relevância. “É sobre isso que vimos falando no InspiraMais há dois semestres: materiais que
vão ser relevantes. E aqui estamos falando de materiais sustentáveis, mas também de
materiais que buscam se encontrar de alguma forma dentro da economia circular. É a ideia de
regeneração”, pondera Marnei Carminatti.
Aconchego – Outro aspecto de extrema relevância nesta temporada, segundo Marnei
Carminatti, são os elementos que parecem não ter estrutura, que são fofos, macios, em todas
as nuances, de laminados a sintéticos. Tecidos que sejam fluidos, que tragam a ideia do soft a
qualquer custo. “Esse é um elemento que vem desde o início da pandemia, justamente pelo
hold confort. Desde o período mais constrangedor da epidemia , quando a gente precisava
ficar em casa, eu não consigo mais usar peças que me tragam desconforto, mesmo que elas
sejam maravilhosas. Nossa memória não quer mais o que não seja extremamente
confortável”, conclui Marnei.
Por fim, Carminatti enumera outros pontos importantes que também foram identificados pela
pesquisa do InspiraMais como os elementos fragmentados, que ficam evidentes quando vistos
e tocados, como cristais, pedras e todo esse universo que pode ser configurado como
estamparia ou detalhes para acessórios. Fundamental também foi a percepção do esporte na
moda: ele já faz parte das coleções, mas, de acordo com Marnei, o mais importante é
questionar: “Você tem roupas para a prática de esportes ou você entendeu a ideia das roupas
esportivas como uma técnica, como uma estrutura? Todas as marcas devem fazer essa leitura.
Podemos misturar desde a estampa de uma bola, criando uma linguagem que interpreta esse
produto esportivo, ou até mesmo um produto sofisticado, não para a prática de esportes, mas
para estar elegantíssimo”, destaca o designer. A Geração Z também está nos trends da
estação. Linguagem jovem, estampas metalizadas, de cor prata, quadriculadas, mas que deem
a ideia de serem infantis, no sentido de serem autorais, de terem sido feitas por crianças.
ServiçoSaiba mais sobre o projeto InspiraMais e toda a agenda dos próximos eventos:
www.inspiramais.com.br/Conheça a plataforma
www.originalbybrasil.com.br, que faz a decodificação das inspirações
em materiais e oferece todas as referências dos fornecedores.
Marnei Carminatti, consultor em Gestão de Design.