08 de Novembro
Moda para pensar o mundo
Ronaldo
Fraga exibiu em Buenos Aires criações contra a xenofobia e que valorizam as
raízes dos imigrantes e povos originários da América do Sul
A moda pode ser abordada como meio de expressão de “arte
contemporânea”? Pode servir para pensar a realidade? Na sua busca pela
transversalidade na arte, a BIENALSUR – Bienal Internacional de Arte
Contemporânea - diz que sim. E aposta na moda como suporte de manifestações
artísticas de alguns criadores que encontram nos desenhos de suas roupas um
meio para expressar com arte as inquietudes e visões da atualidade.
A visão diferenciada da BIENALSUR, que acontece em 16 países
simultaneamente, com mais de 100 exposições de arte urbana, performances e
mostras de vídeos às coleções de importantes museus – teve um de seus grandes
momentos no dia 2 de novembro, com a abertura da mostra Gênesis –
Cultura sem Fronteiras, do estilista Ronaldo Fraga, no Hotel dos Imigrantes de
Buenos Aires, sede principal da BIENALSUR, local que concentra o maior número
de atividades artísticas do evento. Atletas, escritores, artistas plásticos e
diversas personalidades da Argentina fizeram parte da performance criada por
Ronaldo Fraga, que encontrou na BIENALSUR o marco ideal para expressar e
reivindicar a riqueza cultural dos sul-americanos, através de uma coleção
inspirada em ampla pesquisa antropológica dos saberes dos povos originários e
dos que chegaram a este continente. Esse caldeirão de origens – no momento em
que cresce a xenofobia, o medo e a rejeição ao outro – foi traduzido no
desfile de 30 peças que depois farão parte de uma exposição que pretende
percorrer várias cidades. Para o desfile em Buenos Aires, Fraga também incluiu o resultado do desafio feito quatro jovens estilistas argentinos que, em apenas
24 horas, transformaram um vestido branco de sua criação em “tela” artística. A trilha sonoro do desfile ficou a
cargo da cantora Charo Bogarín, tataraneta de um cacique guarani e considerada
um dos grandes referentes da nova música folclórica da Argentina. Ronaldo Fraga
realizou ainda duas palestras, uma aberta ao público no Distrito Audiovisual e
outra para profissionais no Centro Metropolitano de Desenho.
Gênesis – Cultura sem Fronteiras dialogou no Hotel de
Imigrantes com obras do Museu Reina Sofía e dos artistas Tatiana Trouve
(Brasil); Romuald Hazoume (Benim); Mariana Telleria (Argentina); Marco Maggi
(Uruguai); Ivan Argote (Colômbia); Mariano Sardón (Argentina); Jose Bechara
(Brasil) e do cineasta Amos Gitai (Israel).
A BIENALSUR, que acontece desde setembro, criou um novo
universo cartográfico e rompeu as fronteiras através da arte, num diálogo
cultural instantâneo entre a América do Sul e o resto do mundo. O ponto de
partida – Km 0 – é Buenos Aires, Argentina; o mais distante, Tóquio, Km
18.370. A conexão, que se dará até dezembro, data final das exposições,
ocorre entre artistas, curadores e o público, que participa ao mesmo tempo de
diferentes eventos em todas as 84 sedes da bienal. Essa interatividade é
possível graças à utilização de recursos virtuais como as Ventanas BIENALSUR,
que oferecem aos visitantes de qualquer uma das mostras a possibilidade de ver
o que está acontecendo em cada uma das outras exposições. A mesma ferramenta
permite o diálogo ao vivo entre as pessoas que estejam em diferentes eventos da
programação. BIENALSUR utiliza também as tecnologias da realidade aumentada e
do videojogo para difundir a produção artística contemporânea junto aos mais
jovens.
Primeira bienal internacional organizada por uma universidade
pública, a Universidad Nacional de Tres de Febrero (UNTREF), desde o final de
2015, a BIENALSUR conta com o reitor Aníbal Jozami como Diretor Geral e Diana
Wechsler como Diretora Artístico-acadêmica. É uma bienal de arte que, pela
primeira vez na história das bienais, coloca vários artistas e cidades do mundo
em relação de igualdade. Multidisciplinar, destaca-se ainda pelo o ineditismo
de contar com diversos países promotores de uma mesma iniciativa e pelo
protagonismo das instituições universitárias: 20 universidades de todo o mundo
participam do projeto. Mais de 95% das obras que fazem parte da Bienal foram
escolhidas através de duas seleções internacionais abertas, que receberam mais
de 2.500 propostas de 78 países.
No Brasil, já estão em cartaz exposições no Memorial da
América Latina, na capital paulista, no Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba
(SP) e no Campus da Universidade Federal do Rio Grande Sul, em Porto Alegre. A
Universidade Federal de Santa Maria (RS) recebeu Factors 4.0 – O Festival de
Arte, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul. No Rio de Janeiro, exposições
na Central do Brasil e na Fundação Getúlio Vargas serão inauguradas em
novembro. Em paralelo, a arte de brasileiros como Eduardo Srur, Regina
Silveira, Shirley Paes Leme, Ivan Grilo, Vik Muniz, José Bechara, Cildo
Meireles, Hélio Oiticica e Anna Bella Geiger, entre outros, fazem parte desse
intercâmbio cultural, com mostras na Argentina e no Peru.
Em Buenos Aires, BIENALSUR esta no Hotel de Imigrantes, na
antiga Confitería del Águila (Centro de Arte Contemporânea para a
Biodiversidade, dentro do zoológico, o MALBA, a Fundação PROA, o Centro
Cultural Kirchner, Centro Cultural Conti, Casa Nacional do Bicentenário, e os
museus: Nacional de Belas Artes, Fernandes Blanco, de Arte Decorativo e
Histórico Nacional. O evento inclui intervenções em fachadas de prédios
emblemáticos, praças e aeroportos. Na Argentina a programação inclui as cidades
de Tigre, Caseros, Rosário, Córdoba, San Juan, Tucumán, Salta e Bahía
Bustamante (Chubut) . Desfazendo fronteiras, a BIENALSUR esta ainda em Uruguai
(Montevidéu), Paraguai (Assunção), Chile (com sedes em Santiago, Valdívia e
Valparaíso), Peru (Lima), Equador (Guayaquil) e Colômbia (Bogotá e Cúcuta). No
continente africano, a parada é em Cotonou e Ouidah, em Benin. Na Europa,
Espanha (com sedes em Madri e Palma de Mallorca) e França (com sedes em Paris e
Marselha) e Austrália (Frankston, Victoria). Por último, na Asia, o Japão
(Tóquio).
Visite o site: www.bienalsur.org/