“Raquell
Guimarães é Penélope moderna, já encontrou seu Ulisses e nem destece o qu de
dia faz, mas de forma primorosa, tece o fio, dia a dia, vida a vida. Em seu
território criativo, Raquell sempre elabora uma revolução particular.
Seu
estratagema não é desmanchar uma cadeia de elos, segundo ela é simbolizar
através do ponto corrente, o cárcere, a prisão. Mostrar ao mundo o quanto cada
ser tem um dom, um tipo de ponto e, principalmente, uma história pra contar.
As
vestes que faz, mais que roupas, têm escrito um alfabeto muito particular, onde
sentenciados que vivem em regime fechado no presídio, masculino e feminino, de
segurança máxima, se libertam nesse tempo dedicado à produção pra marca
Doisélles.
Nesta
coleção de inverno a intenção da marca é ser casulo, onde o proteger, o cobrir,
o conter, o revestir, tão necessários à intranquilidade do simples andar na
rua, faz com que linhas se enovelem em verdadeiras wereable-arts, armaduras
contemporâneas como invólucro do que precioso é. Uma proposta de economia
afetiva, de troca.
Os
limites de Raquell parecem ser sempre maiores que os corpos que os vestem. Como
no japonismo, onde os estilistas sentiram o quanto o corpo precisa de espaço de
movimento.
Ao
toque, as peças revelam suavidade, languidez, leveza, verdadeiro abraço em quem
as vestirá.
Raquell
hoje tem como atelier um antigo paiol, onde paredes de madeira seculares
comungam com vidros, que se abrem em janelas imensas sobre o pasto verde. É ali
nesse cenário que também teve como função o depositar, o guardar para novas
estações, é ali que ela cria, revelando ao mundo a poesia do que apenas um fio
é, iluminando essa matéria-prima com sua imaginação, transfigurando-a num jogo
de formas e volumes inusitados.
Texto: Mary Figueiredo Arantes
Confira o desfile completo em nossa GALERIA.
Crédito das imagens: AGÊNCIA FOTOSITE