#FeitoNoBrasil é uma hashtag que circula com afinco e constância nas redes sociais do país sul-americano. Revela um desejo que destaca a importância da brasilidade ou a fidelidade à identidade nacional, uma mistura de etnias, inspirações, culturas e religiões que representa o Brasil desde a sua fundação.
Na moda e no design, os criadores retornam às raízes da cultura brasileira. Resgatam técnicas e materiais antigos remodelando os códigos estéticos contemporâneos. Como destaca Dijon de Moraes, designer com mestrado no Politécnico de Milão e reitor da UEMG - Universidade do Estado de Minas Gerais “o nosso design, como também a moda, a música, o cinema e a arte nos oferecem um modelo multi estético, experimental, livre e espontâneo. A sua principal característica é a diversidade e pluralidade, a acentuada origem mestiça, híbrida”.
A exaltação criativa dessa identidade múltipla não é para os brasileiros, como se poderia pensar, uma reação espontânea, um reflexo natural. É na realidade um resultado de mais de cem anos de história. Durante todo o século XX, o Brasil desenvolveu um complexo de inferioridade em relação à Europa e a América do Norte, tendo como consequência imediata à baixa autoestima nacional e o desejo de copiar e/ou importar os modelos provenientes do exterior, em particular no que diz respeito ao design e moda europeus. A situação se inverteu nos últimos anos, graças ao forte crescimento econômico e ao papel decisivo do Brasil na América Latina que, depois do mundial de futebol, em agosto hospedará as Olimpíadas no Rio. Esta posição de não subordinação liberou novas energias e mobilizou os jovens criadores que, sem mais o complexo do “vira-lata”, se dedicam a decodificar o inesgotável reservatório da heterogênea cultura local. Emergem nomes, novas personalidades do setor e também regiões inteiras como Minas Gerais, estado em que se concentram muitos dos recursos e atividades do mundo do design e da moda (15% de toda a indústria do setor).
Também é de Minas um dos fashion designer mais bem sucedidos e líder dos guardiões do legado nacional: Ronaldo Fraga. Seu trabalho está à procura do DNA de uma moda que seja profundamente brasileira, trabalhando o resgate dos tecidos, cores, motivos e tradições. Em cada coleção, se propõe a celebrar uma parte significativa do Brasil, homenageando grandes nomes brasileiros, como Zuzu Angel - grande inovadora do made in Brazil, o poeta Carlos Drummond de Andrade, ou ainda Lampião e Maria Bonita - míticos sertão brasileiro.
“Trabalho com seda, linho e algodão produzidos no Brasil, prefiro tonalidades solares como laranja e azul, e procuro sempre estabelecer uma ligação entre o artesanato do ‘feito à mão’ e a produção industrial nacional. (...) Ainda estamos no início do processo que leva ao reconhecimento da moda como um vetor cultural”.
Traduzindo: o sistema da moda do Brasil ainda tem muito a ser construído. Mas a notícia é positiva, há espaço para fazer. É o que demonstram marcas como Faven, Llas, Lino Villaventura, que participam do Minas Trend, a semana da moda do estado de Minas Gerais, dentre as mais importantes do país com 15 mil visitantes.
O design segue o mesmo caminho. Em um ambiente “informal e quente” como o define Zanini de Zanine, playmaker carioca, se trabalha “mergulhando na herança dos artesãos, nas profissões esquecidas, nas atividades quase extintas”. Rodrigo Calixto, que com o sócio Guilherme Sass fundou o atelier-laboratório Oficina Ethos destaca: “O artesanato sempre desenvolveu um papel decisivo na nossa cultura. Acredito que o feito à mão brasileiro seja o caminho a ser percorrido para o futuro do nosso design, que sempre se nutriu das descobertas e do desenvolvimento de muitos artesãos regionais. É atitude low-tech de defesa e preservação das nossas raízes históricas que hoje distingue fortemente o nosso trabalho e o diferencia dos americanos e europeus, que são mais hi-tech”